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Cirrose por Prof Luiz Carneiro

O fígado é um órgão vital que desempenha muitas funções, todas de grande importância. Basicamente, ele participa do processo de digestão, aproveitamento de nutrientes e metabolização de substâncias. Inclusive, permite ao organismo eliminar toxinas que não serão aproveitadas.

Sendo assim, quase tudo aquilo que ingerimos ou está presente em nosso corpo atinge o fígado de alguma forma. Então, quando há um desequilíbrio na alimentação, na saúde ou nas substâncias ingeridas, esse órgão é afetado. Isso provoca lesões que podem desencadear a cirrose.

O que é cirrose?

A cirrose é uma doença crônica que geralmente se desenvolve lentamente, ela se caracteriza pela formação de fibrose e nódulos no fígado. A fibrose é um tipo de tecido cicatricial que se forma quando o fígado sofre muitas lesões em suas células hepáticas; e então são substituídas por essa cicatriz.

O tecido fibroso bem como os nódulos prejudicam o funcionamento do órgão, eles bloqueiam e dificultam a circulação sanguínea, assim o fígado fica comprometido e não consegue mais desempenhar as suas funções lentamente ele se torna insuficiente.

Qual é a taxa de incidência da cirrose?

A taxa de incidência da cirrose é maior entre pessoas do sexo masculino a partir de 45 anos de idade. No entanto, as mulheres são mais suscetíveis a esse problema quando relacionado ao consumo de álcool, em função da sensibilidade maior do seu organismo para metabolizar essa substância.

O que causa cirrose?

Como você viu, a cirrose hepática se desenvolve a partir de lesões sofridas pelo fígado, que afetam suas células saudáveis e prejudicam o seu funcionamento. Essa condição, portanto, pode ser desencadeada por diferentes fatores, oriundos dos hábitos do indivíduo, de doenças ou condições orgânicas. Veja a seguir as causas principais.

• Consumo excessivo de álcool

O consumo excessivo de álcool é a principal causa da cirrose. Isso porque essa substância é metabolizada por ele, assim, quando o órgão é exposto a doses excessivas, sofre os danos em seus tecidos, desencadeando a fibrose que citamos.

• Hepatite B

Considerando os casos de cirrose ao redor do mundo, a hepatite B é a causa mais comum dessa doença. Ela é provocada pelo vírus VHB que, quando invade o organismo, se multiplica e provoca uma inflamação no fígado.

O VHB é transmitido por meio de contato com sangue contaminado, principalmente por relações sexuais, transfusão de sangue, uso e compartilhar seringas, giletes, escova de dentes com pessoas contaminadas. Entretanto, ele pode sobreviver no ambiente externo por vários dias, e o seu período de incubação é de 1 a 4 meses.

• Hepatite C

A hepatite C também está entre as causas mais comuns da cirrose hepática. Essa doença é causada pelo vírus VHC, que também provoca uma inflamação no órgão e danos que evoluem de forma lenta, progredindo por vários anos até manifestar sintomas.

A transmissão do VHC se dá principalmente por meio do contato com sangue contaminado. Como os sintomas demoram para se manifestar, segundo a Organização Mundial da Saúde, apenas uma em cada 20 pessoas sabe que tem o problema e, entre 100 contaminados, somente um recebe tratamento.

• Hepatite Autoimune

Enquanto as demais hepatites são provocadas por um vírus, aquela classificada como autoimune é uma condição do organismo da pessoa. Nesse caso, o sistema imunológico apresenta um mal funcionamento e passa a reconhecer as células do fígado como invasoras.

Sua reação, portanto, é atacá-las. Mas esse processo desencadeia uma inflamação crônica. Ela provoca a destruição progressiva das células hepáticas formando a fibrose. Por isso, quando não recebe o devido tratamento, o fígado é cada vez mais atacado e desenvolve a cirrose autoimune.

• Hemocromatose

A hemocromatose é uma doença que se caracteriza pelo acúmulo excessivo de ferro no organismo. Embora ele seja fundamental para a manutenção da saúde, quando absorvido em excesso acumula no fígado e em outros órgãos, como o pâncreas e o coração, o que desencadeia diversas doenças, inclusive a cirrose.

Existem diferentes tipos de hemocromatose. Um deles é hereditário, e consiste em uma predisposição para absorver o ferro em excesso. Outro é a hemocromatose secundária, que está associada a doenças hepáticas. Como o organismo não elimina facilmente o ferro, esse quadro também pode ser ocasionado por uma suplementação excessiva do mineral.

• Esteatose hepática

Mais conhecida como gordura no fígado, a esteatose hepática se caracteriza por um acúmulo de moléculas gordurosas nas células hepáticas. Pode ser decorrente do consumo excessivo de álcool ou estar relacionada com a obesidade, diabetes, hepatite e colesterol alto.

A administração de corticoides, a alta de triglicerídeos, elevação de lipídios e algumas cirurgias para tratar a obesidade também podem levar ao acúmulo de gordura. Essa doença é chamada, ainda, de infiltração gordurosa ou doença gordurosa do fígado, e desencadeia inflamações e lesões que formam a cirrose.

• Uso prolongado de medicamentos

Como você viu no item anterior, a administração prolongada de corticoides pode desencadear a esteatose hepática, que ocasiona cirrose. No entanto, outros medicamentos que também são utilizados por muito tempo podem provocar reações em função da exposição prolongada do fígado a essas substâncias.

Na lista entram, por exemplo, alguns vasodilatadores, antipsicóticos, antibióticos e substâncias utilizadas no tratamento do câncer e doenças autoimunes. Isso porque, como explicamos, o fígado metaboliza as substâncias que ingerimos, o que inclui os medicamentos.

Quais são os fatores de risco da cirrose?

Fatores de risco são condições que favorecem a manifestação da cirrose. Pessoas com determinados quadros clínicos, ou que estão expostas a algum agente agressivo têm uma suscetibilidade maior para o desenvolvimento desse problema. Alguns fatores de risco para essa doença do fígado são:

  • consumo excessivo de bebidas alcoólicas;
  • obesidade;
  • ser portador de Hepatite, em especial B e C;
  • apresentar predisposição genética;
  • ter mais de 40 anos;
  • uso excessivo de medicamentos.

É válido ressaltar que essas condições não apontam para a certeza de uma pessoa ter cirrose. São fatores, que como explicamos, favorecem a doença.

Quais são os sintomas da cirrose?

Uma vez que a cirrose prejudica o funcionamento do fígado todo o organismo sente os prejuízos provocados por essa perda das funções hepáticas. Diversos sinais são característicos da cirrose e ajudam na busca por ajuda médica e no diagnóstico. São eles:

  • náuseas;
  • vômitos;
  • fadiga;
  • mal-estar;
  • pele amarelada;
  • fraqueza;
  • perda de peso;
  • dores no abdômen;
  • queda de cabelo;
  • inchaço no corpo.

Entretanto, existem alguns sintomas que são ainda mais intensos e se manifestam quando a cirrose já está em um estágio avançado. Nesse caso o indivíduo manifesta complicações como:

  • encefalopatia hepática;
  • varizes de esôfago;
  • alterações renais;
  • tumores de fígado.

Uma das grandes preocupações com a cirrose é o fato de ela ser uma doença silenciosa. Cerca de 40% das pessoas que têm esse problema se mostram assintomáticas. Quando os sintomas começam a se manifestar gerando um sinal de alerta, muitas vezes o comprometimento do fígado já está bem avançado.

Como a cirrose evolui?

A cirrose não é um problema que desencadeia complicações rápidas. Na verdade, a evolução desse problema é bastante lenta e de acordo com as agressões sofridas pelo fígado. Sempre que ele sofre uma lesão ela cicatriza e o tecido saudável é substituído pelo fibroso, conforme explicamos.

Esse tecido bloqueia o fluxo sanguíneo através do fígado impedindo que ele exerça as suas funções. A cirrose pode começar com manifestações percebidas apenas em exames laboratoriais e de forma isolada. Com o passar do tempo e conforme o órgão tem mais dificuldade para realizar o seu trabalho surgem os sintomas. 

Ilustração dos estágios de um fígado saudável até ser diagnosticado com Cirrose.

Assim, em muitos casos o fígado sofre as agressões, mas continua o seu trabalho sem manifestar qualquer sintoma. Entretanto, chega um momento em que o comprometimento é muito extenso, então surgem os sinais de alerta.

Essas lesões são irreversíveis, então, a tendência é que se acumulem cada vez mais no fígado. Por isso a cirrose é uma doença lenta e progressiva. Evolui para estágios avançados trazendo complicações e problemas secundários, até levar à completa falência hepática, quando o fígado deixa de funcionar.

Quais são as complicações da cirrose?

Quando cirrose não recebe o devido tratamento, como você viu, ela continua evoluindo na velocidade em que o fígado sofre agressões. Diversas complicações são decorrentes desse mau funcionamento do órgão. Veja a seguir algumas.

• Ascite

Acúmulo de líquido no abdômen, também conhecida como barriga d'água.

• Hipertensão portal

Aumento da pressão da veia porta, localizada no fígado.

• Hipertensão portopulmonar

Aumento da pressão arterial das veias pulmonares em decorrência da hipertensão portal.

• Varizes de esôfago

Ocorrem em função da hipertensão portal e podem desencadear sangramentos pela sensibilidade das veias varicosas.

• Insuficiência renal

Manifesta-se em função da insuficiência hepática, levando ao mau funcionamento dos rins. Problema denominado síndrome hepatorrenal.

• Encefalopatia hepática

Caracterizada pela deterioração das funções cerebrais por causa do acúmulo de toxinas no cérebro.

• Alterações no sistema nervoso

Causadas pelo acúmulo de toxinas no cérebro, sendo: problema de memória e concentração, confusão mental, problemas com o sono, alterações de personalidade.

• Sensibilidade às medicações

O fígado não consegue metabolizar as substâncias e elas podem ficar acumuladas no organismo.

• Queda da imunidade

Em decorrência das alterações que a cirrose provoca no sistema de defesa do corpo, aumentando a suscetibilidade para infecções.

• Acúmulo de toxinas no organismo

Todo o organismo pode ficar intoxicado porque o fígado não consegue filtrar as toxinas do sangue.

• Mau aproveitamento de nutrientes

Como o fígado também metaboliza os nutrientes ingeridos, seu comprometimento leva ao mau aproveitamento de vitaminas importantes, como D e K.

• Câncer hepático

Como o tecido saudável do fígado é destruído, há maiores chances de desenvolver câncer.

Como é feito o diagnóstico da cirrose?

A abordagem inicial para fazer o diagnóstico da cirrose é o exame físico bem como a anamnese para conhecer um possível histórico de fatores de risco do paciente. Na avaliação o médico observará problemas típicos em casos de cirrose, como aumento do baço, inchaço abdominal, presença de eritema ou icterícia.

Quando essa análise física revela suspeitas, o médico solicita exames, que podem ser de sangue, para investigar as funções hepáticas. Esse é o caso da albumina, da protrombina e da bilirrubina, entre outros.

Exames de imagem ajudam a visualizar as estruturas do órgão e identificar lesões ou a fibrose. A ultrassonografia e a tomografia computadorizada permitem fazer essa investigação completa. Em alguns casos pode ser necessário também fazer uma biópsia do fígado.

Como a cirrose é um problema que evolui progressivamente até levar à insuficiência hepática, é muito importante que o diagnóstico seja precoce. Desse modo é iniciado o tratamento o mais rápido possível, evitando complicações ainda maiores ou mesmo óbito.

Quais são as opções de tratamento para cirrose?

Não existe um tratamento que reverta os danos causados ao fígado, por isso, a abordagem em casos de cirrose envolve eliminar o agente agressor e a adotar hábitos mais saudáveis para conter a evolução do problema.

Sendo assim, aqueles que fazem consumo do álcool devem se abster ao máximo da ingestão. Os portadores do vírus da hepatite precisam tratar a infecção. Além disso, é fundamental fazer uma readequação alimentar para minimizar ao máximo as agressões ao fígado.

É recomendado fazer refeições pequenas mais vezes ao dia. Devem ser evitados excesso de sal, frituras, refrigerantes e carne vermelha, dando preferência a uma dieta menos gordurosa e mais natural.

É por isso que o paciente com cirrose pode precisar de um atendimento multidisciplinar. Ele será acompanhado, por exemplo, pelo hepatologista, um nutricionista e o psicólogo, em especial para os casos associados ao consumo excessivo de bebidas alcoólicas.

É fundamental que o paciente receba acompanhamento constante para observar a evolução do seu quadro clínico. Afinal, o objetivo é manter a cirrose estacionada, então, deve realizar exames periódicos e adequar as medidas adotadas, se necessário, para evitar a progressão da doença.

Quando o paciente recebe o devido tratamento, de acordo com as suas necessidades, seu perfil e o grau de cirrose é possível levar uma vida normal, realizando suas atividades profissionais bem como a prática de exercícios físicos. Há diferentes abordagens que ajudam a garantir o equilíbrio da saúde e mais qualidade de vida.

A cirrose tem cura?

Explicamos que não é possível reverter as lesões do fígado, por isso, ainda não existe um medicamento ou procedimento que possibilite a cura da cirrose mantendo o fígado do paciente. A cura de fato apenas é possível por meio da realização de um transplante de fígado, que pode ser com doador falecido ou intervivos.

Esse procedimento é realizado para os casos em que a cirrose já se encontra em um estágio avançado, quando há um comprometimento severo do fígado ou a falência hepática já se manifestou. O indivíduo pode ficar em uma fila aguardando o órgão ou receber de um doador vivo compatível.

• Transplante com doador cadáver

No transplante com doador cadáver o paciente pode receber o órgão inteiro, ou existe a possibilidade de doar parte para um adulto e a outra para uma criança. Assim, tratamos duas pessoas com um mesmo doador.

Nesse caso a pessoa que está no topo da fila precisa estar pronta para a qualquer momento realizar a cirurgia. Afinal, a doação cadáver é incerta, portanto, no momento em que o órgão estiver disponível o paciente precisa atender.

• Transplante intervivos

No caso do transplante intervivos ele foi inicialmente pensado para tratamento de crianças. Isso em função do baixo número de doadores dessa faixa etária e porque o paciente infantil não poder esperar demais o órgão, com um risco aumentado de evoluir para óbito.

É escolhido um doador compatível em relação ao tipo sanguíneo, peso, altura, tamanho do órgão, anatomia do doador e do receptor. São alguns fatores fundamentais para definir se é possível fazer transplante.

Não é necessário que doador e receptor sejam parentes, mas a doação deve ser voluntária. Além disso, existem limites judiciais e critérios que precisam ser respeitados.

Como prevenir a cirrose?

Para prevenir o surgimento da doença, deve-se principalmente evitar a ingestão de bebidas alcoólicas em excesso. Além disso, é importante se prevenir contra as hepatites B e C com o uso de preservativos nas relações sexuais, utilizando materiais descartáveis (seringas, agulhas) e instrumentos próprios ao fazer as unhas em manicures e pedicures.

No caso da hepatite B, além das forma de prevenção citadas é possível evitá-la a partir de vacinas que estão disponíveis para a população. Caso o paciente já tenha contraído o vírus da hepatite, precisa realizar o tratamento com acompanhamento médico, a fim de que o problema não leve à cirrose hepática.

Todos os problemas e doenças do fígado devem ser tratados adequadamente para evitar lesões. Outro ponto essencial é fazer o devido acompanhamento em casos de hepatite autoimune, para que o organismo não agrida o fígado.

A adoção de hábitos saudáveis e o acompanhamento médico periódico são fundamentais para manter a saúde do fígado e de todo o organismo. Assim preservamos as funções desse órgão tão importante e também evitamos diversas outras doenças.

Bibliografia:

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dr Luiz Carneiro sorrindo com braços cruzados

Profº Dr.Luiz Carneiro

CRM: 22.761/SP

Diretor do Serviço de Transplante e Cirurgia do Fígado do Hospital das Clínicas, professor da FMUSP e chefe do Departamento de Gastroenterologia da FMUSP.

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