O Prof.Dr. Luiz Carneiro concedeu uma entrevista exclusiva à jornalista Soraia David da TV Medicina & Saúde de Cascavel/PR. Neste bate papo agradável, conversaram sobre sua carreira, o início do transplante de fígado no Brasil e a fila de espera atual. O pioneiro transplante de fígado de doador vivo também está na matéria. Acompanhe.
Um dos maiores especialistas em transplante de fígado do mundo entrou na residência médica em 1975 na área de cirurgia, especificamente em proctologia com a equipe da professora Angelita Gama .
Em 1981, o Prof. Luiz Augusto Carneiro D’Albuquerque viajou para a Suécia, Itália e Estados Unidos onde fez especializações em cirurgia de fígado pâncreas e vias biliares. Ao voltar para São Paulo, desenvolveu a área no Hospital das Clínicas.
Ainda na década de 80, seguiu para a América do Norte, momento em que os médicos americanos davam os primeiros passos no transplante de fígado.
Ao regressar, inovou no campo da cirurgia com o transplante de fígado de doador vivo no Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP.
Apesar de ser um país em desenvolvimento, o Brasil tem hoje o maior serviço público do mundo em transplantes com 92% dos procedimentos pagos pelo SUS.
Este ano, 600 transplantes de fígado serão realizados em São Paulo, para um total de 2000 em todo o país. O Brasil é o segundo país do globo em número de transplantes de fígado.
Ceará, Pernambuco e Paraná também são centros importantes no Brasil. Santa Catarina é o Estado que tem o melhor centro de captação no país e consequentemente de transplantes.
Para o Diretor da Divisão de Transplantes de Fígado e Órgãos do Aparelho Digestivo do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP, o grande desafio está na regionalização dos transplantes… Rio Preto, Brasília, Passo Fundo são cidades com cirurgias expressivas.
Pouca gente sabe, mas um único doador pode beneficiar até três pessoas. A cultura da não doação de órgãos só aumenta a fila de espera no país por um fígado e demais órgãos. A mortalidade desses pacientes chega a 30%.
O transplante hoje no Brasil é feito por gravidade, no caso o paciente mais sério e debilitado sai na frente. De acordo com o Prof. Carneiro, calcula-se que há 200 pacientes aguardando um transplante. Este ano, sua equipe já fez 82 cirurgias para um número estimado na casa de 140.
Em 1986, o Prof. Carneiro e sua equipe foram pioneiros ao fazer transplante de fígado de doador vivo. Esse método lançado há 31 anos era inédito no planeta. Recentemente, o número de transplante de fígado de doador vivo vem abrindo a lista pra quem não tem um doador.
Hoje, o HC tem uma estrutura de tecnologia ultramoderna e preparada com resultados equivalentes ao do primeiro mundo.
Um grande problema no Brasil é que só a família pode liberar a doação de órgãos da pessoa com morte cerebral e os brasileiros não estão habituados a essa decisão, que deve ser tomada num momento difícil mas que pode salvar inúmeras vidas.
As equipes de captação de órgãos cruzam os Estados de avião para retirar os órgão e fazer o transplante. É conservado a 4 °C numa solução muito cara com uma vida de 12 a 15 horas.
Hoje, o colegiado do Prof. Carneiro já realiza o transplante de intestino e multivisceral na capital paulista.
O professor Luiz Augusto Carneiro D’Albuquerque é Diretor da Divisão de Transplantes de Fígado e Órgãos do Aparelho Digestivo do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP e Professor Titular da Disciplina de Transplantes de Fígado e Órgãos do Aparelho Digestivo da FMUSP.