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O consumo de proteína em excesso prejudica fígado e rins?

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O consumo de proteína em excesso prejudica fígado e rins? | Por Prof Luiz Carneiro CRM 22761 | Diretor do serviço de transplante e cirurgia do fígado do hospital das clínicas da faculdade de medicina da USP.

O ditado que diz que tudo o que é demais faz mal está carregado de verdade. Até mesmo os nutrientes essenciais para o nosso organismo precisam ser ingeridos na quantidade ideal para cada pessoa. Isso porque, ao mesmo tempo em que eles trazem benefícios, quando estão em demasia no organismo podem causar a sobrecarga de diversos órgãos.

A proteína em excesso no corpo humano impacta negativamente no fígado e nos rins, sendo que esse é um tema relevante, já que a ingestão dessas substâncias formadas por um conjunto de aminoácidos tem sido muito estimulada nos últimos anos.

Continue lendo este artigo para entender de que forma as proteínas podem fazer mal ao nosso organismo se forem consumidas em excesso.

A função das proteínas

As proteínas são substâncias formadas por moléculas de aminoácidos ligadas entre si através de ligações peptídicas. Elas são responsáveis por diversas funções no organismo, participando inclusive da composição das células. Não existe nenhum processo biológico em que uma proteína não esteja envolvida.

Dentre as funções atribuídas às proteínas, podemos citar: – Atuam como enzimas – Essas proteínas são capazes de acelerar uma determinada reação químicas no organismo. – Contração muscular – graças à ação de duas proteínas: a miosina e a actina; – Hormônios – Atuam nas mais diversas funções do organismo e, em sua grande maioria, são compostos por proteínas.

Exemplo: insulina; – Anticorpos – Proteínas que atuam na defesa do nosso corpo; – Coagulação – A fibrina (uma proteína) forma uma rede que impede a passagem do sangue; – Transporte de oxigênio – A hemoglobina é uma proteína responsável pelo transporte de oxigênio.

Dentre uma das funções das proteínas, existem as envolvidas com as partes estruturais, relacionadas com a musculatura e os anexos (como por exemplo a pele, unhas, cabelos). Assim, para garantir a formação e a saúde da musculatura, é observado popularmente a utilização de suplementos nutricionais a base de aminoácidos e proteínas. Populares entre os praticantes de atividades físicas, em especial que buscam a hipertrofia.

Elas ajudam a reconstruir as fibras musculares que sofrem micro lesões em função do esforço para as práticas esportivas e de exercícios. Ou seja, aceleram a recuperação dos músculos e permitem que eles encontrem no organismo os nutrientes que precisam para ficarem maiores.

A principal fonte de proteína para os seres humanos são as carnes e alimentos de origem animal, como os ovos e o leite. Mas ela também pode ser encontrada em vegetais como os cereais, por isso, é possível obter esse nutriente mantendo uma alimentação equilibrada.

Como excesso de proteína afeta o fígado e os rins

Para cada pessoa existe uma quantidade ideal de proteína que deve ser ingerida diariamente. A recomendação nutricional é de 1,2 a 2 gramas de quilo/peso por dia. Ou seja, uma pessoa que pesa 80 kg deve ingerir no máximo 160g de proteína diariamente.

Por isso, é muito importante ter cuidado com um hábito que se tornou muito comum atualmente, que é a suplementação alimentar com produtos ricos em proteínas. Muitas vezes a alimentação de uma pessoa é suficiente para que ela obtenha a quantidade necessária de proteína para o seu organismo, então, o uso de suplementos acarretaria excesso desse nutriente.

O maior problema do excesso de consumo de proteína no organismo são os males que ela pode trazer durante sua metabolização realizada pelo fígado e rins. São eles os responsáveis por metabolizar esse nutriente e ficam sobrecarregados quando a ingestão ultrapassa os limites saudáveis.

No caso dos rins, suas funções podem ser comprometidas pela liberação em excesso de ureia e da amônia. Mesmo para os indivíduos saudáveis e que não apresentam problemas renais, existe o risco de desenvolvimento de problemas por causa da ingestão excessiva de proteína.

O fígado é comprometido em função da amônia e também porque ele precisa quebrar as moléculas de proteínas para transformá-la energia, o que aumenta a produção de gordura. Esse quadro é ainda mais grave para quem já apresenta problemas hepáticos, agravando a lesão pré-existente.

O excesso de proteína e os resultados na musculatura

Um dos principais motivos para que uma pessoa aumente a ingestão de proteínas é a crença de que quanto mais desse nutriente no organismo, melhores serão os resultados alcançados. É importante esclarecer que isso não é verdade, porque o excesso de proteína não fará os músculos aumentarem mais.

Como dito, as proteínas podem ajudar na recuperação das fibras musculares e em sua manutenção. Ou seja, ingerindo a quantidade recomendada é suficiente para que o organismo tenha a sua disposição essa substância para destinar à musculatura.

Ingerir em excesso não fará com que os músculos cresçam, mas sim, acarretará em prejuízo para outros órgãos e sistemas. Por isso, o ideal é manter os valores recomendados de acordo com o peso de cada um, associando a ingestão das proteínas com outros nutrientes essenciais.

Dessa forma, a dieta se mantém equilibrada e o organismo terá todas as suas necessidades supridas, sem que o excesso de proteínas venha comprometer as suas funções. É esse equilíbrio que traz os resultados esperados, junto com a dedicação às atividades e a abstenção de alimentos que podem fazer mal para a saúde.

Vale a pena alertar também que a ingestão ineficaz, ou seja,  menor do que o aporte necessário pode ser prejudicial para sua saúde. Portanto sempre recomendamos a avaliação e supervisão da equipe médica e nutricional.

Lembrando que não estamos condenando a suplementação alimentar, apenas recomendamos que ela seja feita de forma responsável e preferencialmente com o suporte de um especialista. Dessa forma será possível desfrutar apenas dos benefícios que esses produtos podem trazer, sem causar impactos negativos para o organismo.

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Profº Dr. Luiz Carneiro
CRM: 22.761/SP
Diretor do Serviço de Transplante e Cirurgia do Fígado do Hospital das Clínicas, professor da FMUSP e chefe do Departamento de Gastroenterologia da FMUSP.
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