Quando falamos em drogas o senso comum enxerga principalmente as ilícitas, como a maconha, cocaína, heroína, entre muitas outras. Porém, convivemos diariamente com drogas legalizadas, que são tabaco e o álcool. O maior problema é que, embora elas sejam permitidas, trazem abalos para saúde de forma tão relevante como as outras.
A ingestão de bebidas alcoólicas é um problema que já se tornou de saúde pública no Brasil. Isso porque o álcool afeta expressivamente o fígado, levando ao desenvolvimento de doenças graves e é sobre isso que nós vamos conversar neste artigo.
Continue lendo e entenda como as bebidas alcoólicas afetam esse órgão conhecendo a forma como ele é metabolizado. Veja também se existe um modo saudável de apreciá-las minimizando as consequências negativas que podem trazer.
O que acontece com o álcool no organismo
O fígado tem um papel fundamental no sistema digestivo, sendo responsável por metabolizar diversas substâncias. No caso do álcool isso não é diferente, já que esse órgão terá a necessidade de metabolizar o álcool também.
A absorção do álcool começa no estomago e intestino, sendo enviado para metabolizar no fígado. Mais de 90% do álcool absorvido é eliminado pelo fígado; 2 a 5% é excretado sem modificações na urina, suor e respiração. O primeiro passo no metabolismo do álcool é a oxidação do acetaldeído pela enzima denominada álcool desidrogenase (ADH). Esta enzima converte o álcool em acetaldeído. A enzima aldeído desidrogenase (ALDH), converte o acetaldeído em acetato. O sistema de enzimas microssomais oxidativas (SEMO) pertencem à família dos citocromos e compreendem um sistema alternativo de metabolização do álcool no fígado. O SEMO transforma o álcool em acetaldeído pela ação do citocromo P450 2E1 ou CYP2E1 presentes nas células hepáticas.
As enzimas hepáticas conseguem transformar as bebidas alcoólicas em outras substâncias, para serem eliminadas. Porém, quando a pessoa bebe demais as células do fígado começam a ser lesionadas e isso dificulta as suas funções.
Uma das características do fígado é conseguir se recuperar quando sofre alguma lesão. Mas se a ingestão de bebidas alcoólicas é diária e em quantidades muito altas ele não consegue se recuperar e a metabolização do álcool fica comprometida.
Permanecendo nessa situação, com o passar do tempo as células hepáticas podem ser destruídas sem a possibilidade de recuperação do órgão. Com isso, desenvolve-se a cirrose e o quadro pode complicar-se e evoluir para o câncer.
Os danos do álcool no organismo feminino
As bebidas alcoólicas podem causar danos para o fígado de homens e mulheres, porém, no caso delas os riscos são ainda maiores. Isso se explica por diversas razões, sendo uma delas é o fato de a porção aquosa na mulher ser menor. Além disso, o organismo feminino absorve o álcool com mais intensidade e o estômago tem menos enzimas para começar a destruição dessas moléculas ainda ali.
É por isso que os efeitos do álcool podem ser percebidos mais facilmente nas mulheres e os homens acabam se auto classificando como mais fortes para ingestão de bebidas. Essa resistência maior, portanto, se explica pela constituição do seu organismo, mas isso não significa que os seus órgãos não sejam afetados por essa substância.
Como apreciar as bebidas alcoólicas sem risco
O maior problema da ingestão de bebidas alcoólicas está na frequência e quantidade com que elas são consumidas. O álcool provoca dependência no organismo, porque ele começa a apresentar uma resistência maior a essa substância, causando a necessidade de ingerir quantidades cada vez maiores para alcançar o mesmo estado de relaxamento e prazer.
A doença do alcoolismo começa a se instalar dessa forma e as lesões no fígado se manifestam. A ingestão diária maior de 80 g de álcool (em homens), e valores pela metade em mulheres, leva ao desenvolvimento de cirrose hepática no período de 10 anos, aproximadamente.
Essa quantidade equivale em média as três garrafas e meia de cerveja com 600 ml cada, porém, é preciso lembrar que essa bebida contém um teor alcoólico menor. Então, para quem prefere os destilados a quantidade diária é menor para se atingir esse limite.
No caso da Vodka, whisky, entre outras, o teor alcoólico é dez vezes maior do que da cerveja. Então, a ingestão diária de um copo grande desses destilados equivale a 64 gramas de álcool no organismo, ou seja, quase o limite para o risco aumentado de cirrose.
Então para quem gosta de apreciar bebidas alcoólicas o ideal é que isso seja feito esporadicamente e em momentos especiais. Dessa forma a pessoa ainda poderá desfrutar o seu sabor, mas sem que o álcool no fígado venha trazer lesões irreversíveis para ele.
Em 2000, uma meta-análise de 28 trabalhos científicos demonstrou o risco de ataque cardíaco em homens diminui à medida que o consumo de álcool aumenta de zero para 25 gramas diárias (consumo baixo ou moderado). Nessa dosagem diária, o risco era 20% menor do que o dos abstêmios.
Em 2002, Katsky e colaboradores reportaram acompanhamento de 130 mil pessoas na Califórnia que bebiam vinho e cerveja. Encontraram 35% menos de mortes por infarto entre os que tomavam vinho (tinto ou branco), comparados aos que bebiam cerveja. Os que tomavam vinho, no entanto, fumavam menos, tinham nível educacional mais alto, praticavam mais exercícios físicos e abusavam do álcool com menor frequência.
Certamente, as diferenças de estilo de vida provavelmente explicam os resultados que sugerem maior eficácia do vinho na prevenção de infartos. Por essa razão, a maioria dos autores aceita que os efeitos benéficos do consumo baixo ou moderado se devam a melhor qualidade de vida.