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Cuidados pós-operatórios para doador e receptor em transplante entre vivos

Índice

Os cuidados pós-operatórios em transplantes entre vivos são fundamentais para garantir a segurança do doador e a recuperação eficaz do receptor. Neste artigo, você vai entender como funciona esse processo, quais são os principais desafios, a importância da equipe especializada e por que o transplante intervivos pode oferecer melhores resultados a longo prazo.

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Porque o transplante de intervivos pode ser uma alternativa melhor do que esperar por um fígado de um doador falecido?

Cuidados com o doador e o receptor 

Os especialistas explicam que esses cuidados são semelhantes aos de uma grande cirurgia, realizados em uma unidade especializada. Assim como em cirurgias cardíacas, em que o paciente é levado a uma UTI com equipe treinada para tratar doenças do coração, ou em cirurgias neurológicas, com profissionais experientes na recuperação do sistema nervoso, o transplante exige um centro capacitado para o cuidado pós-operatório.

O doador, por sua vez, deve receber atenção especial para ter o mínimo de dor e nenhum desconforto. Trata-se de uma pessoa com um altruísmo admirável, frequentemente chamada de herói, cuja personalidade singular se expressa no gesto de doar parte de si. Por isso, os profissionais se cercam de todos os cuidados para preservar seu bem-estar.

É comum que o doador apresente enjoo nos primeiros dias. Acredita-se que isso ocorra porque, ao retirar metade do fígado, parte do sangue que antes irrigava o órgão fica estagnada temporariamente. Esse processo pode deixar os órgãos abdominais encharcados e comprometer a motilidade intestinal, o que gera enjoo, sensação de plenitude e desconforto.

Essa reação varia entre os pacientes, mas geralmente desaparece em cerca de três dias. A prioridade é garantir o conforto, a boa cicatrização da incisão e a prevenção de complicações pulmonares. Todo esse cuidado é fundamental nos primeiros momentos após a cirurgia.

Após aproximadamente 15 dias, a recuperação costuma ser significativa, cerca de 70% do fígado já se regenerou. Nesse ponto, o paciente costuma ser liberado, e a fisioterapia, iniciada ainda no pré-operatório, continua sendo essencial durante o pós-operatório. Superada a fase de dor e enjoo, a evolução do doador tende a ser muito satisfatória.

Recuperação pode variar dependendo da faixa etária

Para o receptor, a recuperação dependerá do seu estado clínico. Pacientes jovens, bem nutridos, com boa massa muscular e sem cirurgias abdominais prévias costumam evoluir de forma semelhante à dos doadores. Já pacientes mais idosos, debilitados por anos de restrições alimentares e encefalopatia hepática, com presença de ascite e outras complicações, apresentam uma recuperação mais lenta e exigem um acompanhamento ainda mais intensivo.

Nestes casos, o apoio de uma equipe de pós-operatório especializada é imprescindível. Além dos cuidados cirúrgicos, esses pacientes precisam receber medicamentos imunossupressores, que podem aumentar o risco de infecções, diabetes e disfunção renal.

Por isso, a presença de uma equipe treinada na UTI é essencial para monitorar todos esses parâmetros. O equilíbrio é delicado: uma infusão excessiva de soro pode sobrecarregar o pulmão, enquanto uma quantidade insuficiente pode comprometer a função renal já fragilizada pelos imunossupressores. Nos primeiros dias, esse monitoramento é fundamental.

Do ponto de vista do cirurgião, é desejável que o paciente se alimente e se movimente o quanto antes, pois o novo fígado precisa ser estimulado com glicose e hormônios digestivos para iniciar sua regeneração e crescimento. Essa recuperação precoce exige, no entanto, uma coordenação constante com a equipe da UTI.

Após a alta da UTI, o foco passa a ser a fisioterapia e o ajuste das doses dos imunossupressores. Os primeiros dias continuam sendo os mais críticos, e a evolução depende diretamente da doença de base. Pacientes com doenças mais leves tendem a se recuperar com mais facilidade, enquanto os mais graves exigem internações prolongadas e ajustes contínuos em diversos sistemas do corpo, como os rins, o coração e o controle do diabetes.

Em pacientes saudáveis, a atenção se concentra apenas no ajuste da imunossupressão. Já nos casos mais complexos, é necessário monitorar e tratar uma série de outras funções vitais, o que prolonga o tempo de internação.

De maneira geral, a evolução dos pacientes transplantados é muito positiva. O transplante de fígado com doador vivo, inclusive, costuma apresentar taxas de sobrevida a longo prazo um pouco superiores às do transplante com órgãos de doadores falecidos. Isso se deve ao fato de que o fígado doado está saudável, e a cirurgia pode ser agendada em um momento ideal, com calma e preparo. Já no caso do transplante com doador falecido, a operação precisa ser realizada assim que o órgão se torna disponível, independentemente das condições clínicas do receptor naquele momento.

Por essas razões, o transplante intervivos oferece resultados melhores, tanto imediatos quanto em longo prazo.

Riscos e recuperação do doador em transplante de fígado

Profº Dr. Luiz Carneiro
CRM: 22.761/SP
Diretor do Serviço de Transplante e Cirurgia do Fígado do Hospital das Clínicas, professor da FMUSP e chefe do Departamento de Gastroenterologia da FMUSP.
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Homem deitado em leito hospitalar, sorrindo e com sonda nasal, enquanto recebe cuidados médicos.

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