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Cirrose

O fígado é um órgão vital que desempenha muitas funções, todas de grande importância. Basicamente, ele participa do processo de digestão, aproveitamento de nutrientes e metabolização de substâncias. Inclusive, permite ao organismo eliminar toxinas que não serão aproveitadas.

Sendo assim, quase tudo aquilo que ingerimos ou está presente em nosso corpo atinge o fígado de alguma forma. Então, quando há um desequilíbrio na alimentação, na saúde ou nas substâncias ingeridas, esse órgão é afetado. Isso provoca lesões que podem desencadear a cirrose.

O que é cirrose?

A cirrose é uma doença crônica que geralmente se desenvolve lentamente, ela se caracteriza pela formação de fibrose e nódulos no fígado. A fibrose é um tipo de tecido cicatricial que se forma quando o fígado sofre muitas lesões em suas células hepáticas; e então são substituídas por essa cicatriz.

O tecido fibroso bem como os nódulos prejudicam o funcionamento do órgão, eles bloqueiam e dificultam a circulação sanguínea, assim o fígado fica comprometido e não consegue mais desempenhar as suas funções. Lentamente ele se torna insuficiente.

Qual é a taxa de incidência da cirrose?

A taxa de incidência da doença é maior entre pessoas do sexo masculino a partir de 45 anos de idade. No entanto, as mulheres são mais suscetíveis a esse problema quando relacionado ao consumo de álcool, em função da sensibilidade maior do seu organismo para metabolizar essa substância.

O que causa cirrose?

Como você viu, a cirrose hepática se desenvolve a partir de lesões sofridas pelo fígado, que afetam suas células saudáveis e prejudicam o seu funcionamento. Essa condição, portanto, pode ser desencadeada por diferentes fatores, oriundos dos hábitos do indivíduo, de doenças ou condições orgânicas. Veja a seguir as causas principais.

• Consumo excessivo de álcool

consumo excessivo de álcool é a principal causa da doença. Isso porque essa substância é metabolizada por ele, assim, quando o órgão é exposto a doses excessivas, sofre os danos em seus tecidos, desencadeando a fibrose que citamos.

• Hepatite B

Considerando os casos de cirrose ao redor do mundo, a hepatite B é a causa mais comum dessa doença. Ela é provocada pelo vírus VHB que, quando invade o organismo, se multiplica e provoca uma inflamação no fígado.

O VHB é transmitido por meio de contato com sangue contaminado, principalmente por relações sexuais, transfusão de sangue, uso e compartilhamento de seringas, giletes, escova de dentes com pessoas contaminadas. Entretanto, ele pode sobreviver no ambiente externo por vários dias e o seu período de incubação é de 1 a 4 meses.

• Hepatite C

hepatite C também está entre as causas mais comuns da cirrose hepática. Essa doença é causada pelo vírus VHC, que também provoca uma inflamação no órgão e danos que evoluem de forma lenta, progredindo por vários anos até manifestar sintomas.

A transmissão do VHC se dá principalmente por meio do contato com sangue contaminado. Como os sintomas demoram para se manifestar, segundo a Organização Mundial da Saúde, apenas uma em cada 20 pessoas sabe que tem o problema e, entre 100 contaminados, somente um recebe tratamento.

• Hepatite Autoimune

Enquanto as demais hepatites são provocadas por um vírus, aquela classificada como autoimune é uma condição do organismo da pessoa. Nesse caso, o sistema imunológico apresenta um mal funcionamento e passa a reconhecer as células do fígado como invasoras.

Sua reação, portanto, é atacá-las. Mas esse processo desencadeia uma inflamação crônica. Ela provoca a destruição progressiva das células hepáticas formando a fibrose. Por isso, quando não recebe o devido tratamento, o fígado é cada vez mais atacado e desenvolve a cirrose autoimune.

• Hemocromatose

hemocromatose é uma doença que se caracteriza pelo acúmulo excessivo de ferro no organismo. Embora ele seja fundamental para a manutenção da saúde, quando absorvido em excesso acumula no fígado e em outros órgãos, como o pâncreas e o coração, o que desencadeia diversas doenças, inclusive a cirrose.

Existem diferentes tipos de hemocromatose. Um deles é hereditário e consiste em uma predisposição para absorver o ferro em excesso. Outro é a hemocromatose secundária, que está associada a doenças hepáticas. Como o organismo não elimina facilmente o ferro, esse quadro também pode ser ocasionado por uma suplementação excessiva do mineral.

• Esteatose hepática

Mais conhecida como gordura no fígado, a esteatose hepática se caracteriza por um acúmulo de moléculas gordurosas nas células hepáticas. Pode ser decorrente do consumo excessivo de álcool ou estar relacionada com a obesidade, diabetes, hepatite e colesterol alto.

A administração de corticoides, a alta de triglicerídeos, elevação de lipídios e algumas cirurgias para tratar a obesidade também podem levar ao acúmulo de gordura. Essa doença é chamada, ainda, de infiltração gordurosa ou doença gordurosa do fígado, e desencadeia inflamações e lesões que formam a cirrose.

• Uso prolongado de medicamentos

Como você viu no item anterior, a administração prolongada de corticoides pode desencadear a esteatose hepática, que ocasiona cirrose. No entanto, outros medicamentos que também são utilizados por muito tempo podem provocar reações em função da exposição prolongada do fígado a essas substâncias.

Na lista entram, por exemplo, alguns vasodilatadores, antipsicóticos, antibióticos e substâncias utilizadas no tratamento do câncer e doenças autoimunes. Isso porque, como explicamos, o fígado metaboliza as substâncias que ingerimos, o que inclui os medicamentos.

Quais são os fatores de risco?

Fatores de risco são condições que favorecem a manifestação de uma doença. Pessoas com determinados quadros clínicos, ou que estão expostas a algum agente agressivo têm uma suscetibilidade maior para o desenvolvimento desse problema. Alguns fatores de risco para essa doença do fígado são:

  • Consumo excessivo de bebidas alcoólicas;
  • Obesidade;
  • Ser portador de Hepatite, em especial B e C;
  • Apresentar predisposição genética;
  • Ter mais de 40 anos;
  • Uso excessivo de medicamentos.

É válido ressaltar que essas condições não apontam para a certeza de uma pessoa ter cirrose. São fatores que, como explicamos, favorecem a doença.

Quais são os sintomas?

Uma vez que a enfermidade prejudica o funcionamento do fígado todo o organismo sente os prejuízos provocados por essa perda das funções hepáticas. Diversos sinais são característicos da cirrose e ajudam na busca por ajuda médica e no diagnóstico. São eles:

  • Náuseas;
  • Vômitos;
  • Fadiga;
  • Mal-estar;
  • Pele amarelada;
  • Fraqueza;
  • Perda de peso;
  • Dores no abdômen;
  • Queda de cabelo;
  • Inchaço no corpo.

Entretanto, existem alguns sintomas que são ainda mais intensos e se manifestam quando a cirrose já está em um estágio avançado. Nesse caso o indivíduo manifesta complicações como:

  • Encefalopatia hepática;
  • Varizes de esôfago;
  • Alterações renais;
  • Tumores de fígado.

Uma das grandes preocupações com a cirrose é o fato de ela ser uma doença silenciosa. Cerca de 40% das pessoas que têm esse problema se mostram assintomáticas. Quando os sintomas começam a se manifestar gerando um sinal de alerta, muitas vezes o comprometimento do fígado já está bem avançado.

Como a doença evolui?

Não é um problema que desencadeia complicações rápidas. Na verdade, a evolução desse problema é bastante lenta e de acordo com as agressões sofridas pelo fígado. Sempre que ele sofre uma lesão ela cicatriza e o tecido saudável é substituído pelo fibroso, conforme explicamos.

Esse tecido bloqueia o fluxo sanguíneo através do fígado impedindo que ele exerça as suas funções. A cirrose pode começar com manifestações percebidas apenas em exames laboratoriais e de forma isolada. Com o passar do tempo e conforme o órgão tem mais dificuldade para realizar o seu trabalho surgem os sintomas. 

Ilustração dos estágios de um fígado saudável até ser diagnosticado com Cirrose.

Assim, em muitos casos o fígado sofre as agressões, mas continua o seu trabalho sem manifestar qualquer sintoma. Entretanto, chega um momento em que o comprometimento é muito extenso, então surgem os sinais de alerta.

Essas lesões são irreversíveis, então, a tendência é que se acumulem cada vez mais no fígado. Por isso a cirrose é uma doença lenta e progressiva. Evolui para estágios avançados trazendo complicações e problemas secundários, até levar à completa falência hepática, quando o fígado deixa de funcionar.

Quais são as complicações da doença?

Quando a cirrose não recebe o devido tratamento, como você viu, ela continua evoluindo na velocidade em que o fígado sofre agressões. Diversas complicações são decorrentes desse mau funcionamento do órgão. Veja a seguir algumas.

• Ascite

Acúmulo de líquido no abdômen, também conhecida como barriga d’água.

• Hipertensão portal

Aumento da pressão da veia porta, localizada no fígado.

• Hipertensão portopulmonar

Aumento da pressão arterial das veias pulmonares em decorrência da hipertensão portal.

• Varizes de esôfago

Ocorrem em função da hipertensão portal e podem desencadear sangramentos pela sensibilidade das veias varicosas.

• Insuficiência renal

Manifesta-se em função da insuficiência hepática, levando ao mau funcionamento dos rins. Problema denominado síndrome hepatorrenal.

• Encefalopatia hepática

Caracterizada pela deterioração das funções cerebrais por causa do acúmulo de toxinas no cérebro.

• Alterações no sistema nervoso

Causadas pelo acúmulo de toxinas no cérebro, sendo: problema de memória e concentração, confusão mental, problemas com o sono, alterações de personalidade.

• Sensibilidade às medicações

O fígado não consegue metabolizar as substâncias e elas podem ficar acumuladas no organismo.

• Queda da imunidade

Em decorrência das alterações que a cirrose provoca no sistema de defesa do corpo, aumentando a suscetibilidade para infecções.

• Acúmulo de toxinas no organismo

Todo o organismo pode ficar intoxicado porque o fígado não consegue filtrar as toxinas do sangue.

• Mau aproveitamento de nutrientes

Como o fígado também metaboliza os nutrientes ingeridos, seu comprometimento leva ao mau aproveitamento de vitaminas importantes, como D e K.

• Câncer hepático

Como o tecido saudável do fígado é destruído, há maiores chances de desenvolver câncer.

Como é feito o diagnóstico da cirrose?

A abordagem inicial para fazer o diagnóstico da cirrose é o exame físico bem como a anamnese para conhecer um possível histórico de fatores de risco do paciente. Na avaliação o médico observará problemas típicos desse quadro, como aumento do baço, inchaço abdominal, presença de eritema ou icterícia.

Quando essa análise física revela suspeitas, o médico solicita exames, que podem ser de sangue, para investigar as funções hepáticas. Esse é o caso da albumina, da protrombina e da bilirrubina, entre outros.

Exames de imagem ajudam a visualizar as estruturas do órgão e identificar lesões ou a fibrose. A ultrassonografia e a tomografia computadorizada permitem fazer essa investigação completa. Em alguns casos pode ser necessário também fazer uma biópsia do fígado.

Como a cirrose é um problema que evolui progressivamente até levar à insuficiência hepática, é muito importante que o diagnóstico seja precoce. Desse modo é iniciado o tratamento o mais rápido possível, evitando complicações ainda maiores ou mesmo óbito.

Quais são as opções de tratamento?

Não existe um tratamento que reverta os danos causados ao fígado, por isso, a abordagem em casos de cirrose envolve eliminar o agente agressor e a adotar hábitos mais saudáveis para conter a evolução do problema.

Sendo assim, aqueles que fazem consumo do álcool devem se abster ao máximo da ingestão. Os portadores do vírus da hepatite precisam tratar a infecção. Além disso, é fundamental fazer uma readequação alimentar para minimizar ao máximo as agressões ao fígado.

É recomendado fazer refeições pequenas mais vezes ao dia. Devem ser evitados excesso de sal, frituras, refrigerantes e carne vermelha, dando preferência a uma dieta menos gordurosa e mais natural.

É por isso que o paciente com cirrose pode precisar de um atendimento multidisciplinar. Ele será acompanhado, por exemplo, pelo hepatologista, um nutricionista e o psicólogo, em especial para os casos associados ao consumo excessivo de bebidas alcoólicas.

É fundamental que o paciente receba acompanhamento constante para observar a evolução do seu quadro clínico. Afinal, o objetivo é manter a cirrose estacionada, então, deve realizar exames periódicos e adequar as medidas adotadas, se necessário, para evitar a progressão da doença.

Quando o paciente recebe o devido tratamento, de acordo com as suas necessidades, seu perfil e o grau de cirrose é possível levar uma vida normal, realizando suas atividades profissionais bem como a prática de exercícios físicos. Há diferentes abordagens que ajudam a garantir o equilíbrio da saúde e mais qualidade de vida.

A cirrose tem cura?

Explicamos que não é possível reverter as lesões do fígado, por isso, ainda não existe um medicamento ou procedimento que possibilite a cura da cirrose mantendo o fígado do paciente. A cura de fato apenas é possível por meio da realização de um transplante de fígado, que pode ser com doador falecido ou intervivos.

Esse procedimento é realizado para os casos em que a cirrose já se encontra em um estágio avançado, quando há um comprometimento severo do fígado ou a falência hepática já se manifestou. O indivíduo pode ficar em uma fila aguardando o órgão ou receber de um doador vivo compatível.

• Transplante com doador cadáver

No transplante com doador cadáver o paciente pode receber o órgão inteiro, ou existe a possibilidade de doar parte para um adulto e a outra para uma criança. Assim, tratamos duas pessoas com um mesmo doador.

Nesse caso a pessoa que está no topo da fila precisa estar pronta para a qualquer momento realizar a cirurgia. Afinal, a doação cadáver é incerta, portanto, no momento em que o órgão estiver disponível o paciente precisa atender.

• Transplante intervivos

No caso do transplante intervivos ele foi inicialmente pensado para tratamento de crianças. Isso em função do baixo número de doadores dessa faixa etária e porque o paciente infantil não poder esperar demais o órgão, com um risco aumentado de evoluir para óbito.

É escolhido um doador compatível em relação ao tipo sanguíneo, peso, altura, tamanho do órgão, anatomia do doador e do receptor. São alguns fatores fundamentais para definir se é possível fazer transplante.

Não é necessário que doador e receptor sejam parentes, mas a doação deve ser voluntária. Além disso, existem limites judiciais e critérios que precisam ser respeitados.

Como prevenir a cirrose?

Para prevenir o surgimento da doença, deve-se principalmente evitar a ingestão de bebidas alcoólicas em excesso. Além disso, é importante se prevenir contra as hepatites B e C com o uso de preservativos nas relações sexuais, utilizando materiais descartáveis (seringas, agulhas) e instrumentos próprios ao fazer as unhas em manicures e pedicures.

No caso da hepatite B, além das forma de prevenção citadas é possível evitá-la a partir de vacinas que estão disponíveis para a população. Caso o paciente já tenha contraído o vírus da hepatite, precisa realizar o tratamento com acompanhamento médico, a fim de que o problema não leve à cirrose hepática.

Todos os problemas e doenças do fígado devem ser tratados adequadamente para evitar lesões. Outro ponto essencial é fazer o devido acompanhamento em casos de hepatite autoimune, para que o organismo não agrida o fígado.

A adoção de hábitos saudáveis e o acompanhamento médico periódico são fundamentais para manter a saúde do fígado e de todo o organismo. Assim preservamos as funções desse órgão tão importante e também evitamos diversas outras doenças.

Bibliografia:

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dr Luiz Carneiro sorrindo com braços cruzados

Profº Dr.Luiz Carneiro

CRM: 22.761/SP

Diretor do Serviço de Transplante e Cirurgia do Fígado do Hospital das Clínicas, professor da FMUSP e chefe do Departamento de Gastroenterologia da FMUSP.

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